domingo, 12 de julho de 2009

Van Gogh: o suicidado pela sociedade.


Artaud, sem mais delongas, considero um verdadeiro gênio. Ácido como deve ser alguém que lucidamente vive enquanto negação de uma ordem, esta, "inteiramente baseada no cumprimento de uma primitiva injustiça". Fez parte do início do movimento surrealista, deixando o mesmo quando seus membros começaram a unir-se ao Partido Comunista. Apresento "Campo de trigos com corvos" de Van Gogh (pintado pouco tempo antes do suicídio) e alguns trechos do ensaio "Van Gogh: o suicidado pela sociedade" (obs: Van Gogh e Artaud, foram ambos considerados loucos):

Pode-se falar da boa saúde mental de Van Gogh, que em toda sua vida apenas assou uma das mãos e, fora disso, limitou-se a cortar a orelha esquerda numa ocasião.
(...) Por isso, uma sociedade infecta inventou a psiquiatria, para defender-se das investigações feitas por algumas inteligências extraordinariamente lúcidas, cujas faculdades de adivinhação a incomodavam. Gérard de Nerval não estava louco, mas o acusaram de estar louco para desacreditar certas revelações fundamentais que estava em vias de fazer; e, além de acusá-lo, certa noite golpearam sua cabeça, golpearam-no fisicamente para que esquecesse os fatos monstruosos que ia revelar e que, por causa deste golpe, passaram do plano mental para o plano supranatural, pois a sociedade toda, conjurada contra sua consciência, mostrou-se naquele momento suficientemente forte para obrigá-lo a esquecer sua verdade.

(...) Diante da lucidez ativa de Van Gogh, a psiquiatria nada mais é que um antro de gorilas obcecados e perseguidos que só dispõem de uma ridícula terminologia para aplacar os mais espantosos estados de angústia e asfixia humana, uma terminologia digna de cérebros tarados.

(...)E o que é um autêntico louco? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana. Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusaram a ser seus cúmplices em algumas imensas sujeiras. Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido e enunciar certas verdades intoleráveis.

(...)E ele não se suicidou num acesso de loucura, de desespero por não conseguir encontrá-lo (o eu humano), mas, pelo contrário,ele havia conseguido, tinha descoberto o que era e quem era quando a consciência coletiva da sociedade, para puni-lo por ter rompido as amarras, o suicidou.

E aconteceu com V.Gogh como poderia ter acontecido com qualquer um de nós, por meio de um bacanal, de uma missa, de uma absolvição ou qualquer rito de consagração, possessão, sucubação ou incubação.

Assim a sociedade inoculou-se no seu corpo, esta sociedade

absolvida,

consagrada,

santificada,

e possuída,

apagou nele a consciência sobrenatural que acabara de adquirir e, como uma inundação de corvos negros nas fibras de sua árvore interna,

submergiu-o num último vagalhão

e, tomando seu lugar,

o matou.

POIS ESTÁ NA LÓGICA ANATÔMICA DO HOMEM MODERNO NUNCA TER PODIDO VIVER, NUNCA TER PODIDO PENSAR EM VIVER, A NÃO SER COMO UM POSSUÍDO.

3 comentários:

HEREGE disse...

A incapacidade de compreensão de nossas mentes, de nossos impulsos e de nossas vontades, cria o rótulo nojendo de "oq é normal e o q é patológico". Tudo feito para que akeles q não seguem o padrão possam ser trancafiados numa sala e eskecidos por todos os outros seres normais.

AH! ótimo post!! =)

hora do crepúsculo disse...

eeh.. pra fzer a pessoa desistir da própria mente! é mt triste né. valeus zé =)

claudia disse...

ADOREI seu blog!