segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Surrealismo , Supernaturalismo.


trechos que mais gosto do manifesto do surrealismo, de 1924, escrito por André Breton.

"É uma história muito conhecida que eu conto, é um poema célebre que eu releio: estou apoiado contra um muro, com orelhas verdejantes e lábios calcinados." (Paul Éluard)



(...) ela (a imaginação) é incapaz de assumir por muito tempo este papel secundário, e por volta dos vinte anos, prefere, geralmente, abandonar o homem a seu destino sem luz. Ainda que se procure mais tarde, daqui e dali, recuperar-se, tendo sentido faltar-lhe, pouco a pouco, todas as razões para viver, incapaz que se tornou de se encontrar à altura de uma situação excepcional tal como o amor, não conseguirá absolutamente. (...) A todos os seus gestos faltará amplitude (...) Ele não se dará conta daquilo que lhe acontece e lhe pode acontecer, senão do que liga este acontecimento a uma porção de acontecimentos dos quais não participou, acontecimentos falhos. (...) Ele não verá, sob pretexto algum, sua salvação.

Cara imaginação, o que eu amo, sobretudo em você, é que você não perdoa.


(...)O espírito do homem que sonha se satisfaz plenamente com o que lhe acontece. A angustiante questão da possibilidade não se lhe apresenta mais. Mate, roube mais depressa, ame tanto quanto quiser. E se você morrer, não tem a certeza de despertar dentre os mortos? Deixe-se levar, os acontecimentos não toleram que você os retarde. Você não tem nome. A facilidade de tudo é inestimável.
Que motivo, (...) confere ao sonho este andar, faz-me aceitar sem reservas uma multidão de episódios cuja estranheza (...) me fulminaria? E, no entanto, eu pude acreditar no que meus olhos viam, no que meus ouvidos escutavam; chegou este belo dia, este animal falou. Se o despertar do homem é mais duro, se ele rompe o encantamento, é que ele foi levado a fazer uma idéia mesquinha da expiação.
(...) Creio na resolução futura desses dois estados, aparentemente tão contraditórios, tais sejam o sonho e a realidade, em uma espécie de realidade absoluta, de superrealidade. "a imagem é uma criação pura do espírito. Ela não pode nascer de uma comparação mas da aproximação de duas realidades mais ou menos afastadas. Quanto mais distantes e justas forem as relações das duas realidades aproximadas, tanto mais forte será a imagem - mais terá ela de capacidade ou poder emotivo e de realidade poética... etc." (Pierre Reverdy)
**Definição da enciclopédia Filos sobre o Surrealismo: O surrealismo assenta na crença da realidade superior de certas formas de associação, negligenciadas até aqui, no sonho todo-poderoso, no jogo desinteressado do pensamento. Tende a arruinar definitivamente todos os outros mecanismos psíquicos e a substituir-se a eles na solução dos principais problemas da vida.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A voz do demônio (William Blake)

Posto William Blake (1757- 1827), retirado de "As Núpcias do Céu e do Inferno". Ele é um dos primeiros poetas malditos da modernidade, e considero que muitos poderão ter o que se chama de um" bom encontro", com este inglês ; estes malditos eram e são assumidamente contrapostos aos enxames de abelhas já agonizantes morrendo nas luzes (de lâmpadas fracas) da razão ocidental, em união sempre renovada historicamente com a política avexatória e a culpa cristã pelo progresso de suas barbaridades desenvolvidas em termos predatórios no planeta Terra. A figura do demônio é invocada por vezes por estes poetas soltos (visto que poetas malditos não estiverem geralmente agrupados sob algum estilo, à excessão de alguns surrealistas) no mundo do delírio, mas não significa que acontece uma adoração do tinhoso, simplesmente o demônio é usado por ser símbolo de revolta, característica instrínseca ao ser humano (morda da fruta da árvore da ciência, baby, mas o criador vai te punir por isso!).

A VOZ DO DEMÔNIO

Todas as Bíblias ou códigos sagrados têm sido a causa dos seguintes Erros:
1. Que o Homem tem dois princípios reais de existência, a saber: um Corpo e uma Alma.
2. Que a Energia, cognominada Mal, provém exclusivamente do Corpo; e que a Razão, cognominada Bem, não provém senão da Alma.
3. Que Deus inflingirá tormentos ao Homem na Eternidade por haver seguido as suas Energias.
A isso, porém, se opõem, como Verdadeiros, os seguintes Contrários:
1. O Homem não tem um Corpo distinto da Alma, pois aquilo que se chama Corpo é uma porção da Alma discernida pelos cinco Sentidos, as principais vias de acesso da Alma neste estágio de nossa existência.
2. A Energia é a única vida, e dimana do Corpo. A Razão é a linha divisória ou a circunferênia exterior à Energia.
3. A Energia é Eterna Fruição.

Aqueles que refreiam o desejo assim procedem porque o que possuem é bastante débil para ser reprimido, e o repressor, isto é, a razão, usurpa o lugar do que anelam e governa os relutantes.
E o desejo sofreado vai-se gradualmente tornando inerte até reduzir-se a uma sombra do que era.
A história disto acha-se estampada no Paraíso Perdido, e o Soberano, ou Razão, chama-se o Messias.
E o Arcanjo original, ou o detentor do comando das hostes celestes, é aí cognominado o Demônio, ou Satanás, e seus filhos se designam pelos nomes de Pecado e Morte.
No Livro de Job, todavia, o Messias de Milton é denominado Satã.
Pois este relato foi adotado por ambos os grupos.
Parecia, na verdade, à Razão como se o Desejo tivesse sido banido; mas a versão do Demônio é que o Messias tombou e fundou o céu com o que roubara do Abismo.
(...).


sábado, 7 de novembro de 2009

pracimealém

vamos nos desgastando
como a contingência do pingo
que desce dos andares do
prédio e anda agora
em minhas costas
num lugar temporal com cheiro
de vida me transporto.
e a vida nem sempre cheira bem
meu avô diria
,
minha vó riria
e eu concordaria
e riria e abraçaria e
abraço vô! abraço vó!

abraço o vôo que me puxa
pracimealém
com medo

vejo você pracimealém
seus olhos são atormentados
acalmada acamada
você salva
a contingência do bem.