quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

meditação no brazil

ser sujeito só da vontade de percorrer algum chão: pisável.

pela esperança morreu aquele (a) porque ela havia morrido.

sem esperar são cem vivências de realidades complicadas

longe do fardo
da possedebilidade de passar adiante

sem saber por onde...

passou. (?)

você só sabe depois de passar
pela esperança em porta,
se
$ílvio, $antos, ou Coríntio$

no
braZil Zil Zil !

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Guinga!

Pra quem interessar, Guinga é um músico e compositor assombroso, e ainda por cima tem letras maravilhosas. sem palavras, o som invade a janela e roda no quarto.

Orassamba


Tempestarde
Chuvabismo
Relampeado azulejei com a luz
além-rebentação
confessei: o mar é meu pecado!
Eu errei, quis ser rei,
soberbei...
Orassamba
acreadeço
pela esfoladura em minhas mãos
na palma em concha o anjo ressurrei
aluciassassinado.

A sereia na rocha
Me avisou mas eu soberbei
o fanal com a tocha
me avisou mas eu recomecei
Orassamba, não perdoe
esse mergulhorgulho, pescador
que de uma outra vez
com São Pedro
eu ando sobre as águas!
Esse anzol que jogamos
onde há peixe nenhum
o espinhaço sempre em riste
e esse clarão na crista, ah, ah, ah
O Universo na caçamba
é do pescador e do letrista de samba.

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Age, Maria
Rasga o teu véu de virgem
Tinge tuas mãos na vertigem do pecado
Maria, ateu ao teu lado
Lanço em teu ventre
A língua que te consagre
Milagre é ser pura em plena incontinência
Sacra é a vida da incoerência
Não quero ser carpinteiro
Pra esculpir cruz que imortalize:
Que não seja eu
Que ao te amar
Te martirize

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

da destra ida

me debruço sobre um teto que está de passagem, vôo
vôo o que associam com a morte
e é de vida, de já vou!
me coloco lótus
noite pezarosa
dias infindos
primaveras inesquecíveis
unicidade
único
única possibilidade é a vida.
escolher a morte ou a vida é o princípio de tudo.

não consigo descansar e é de vida
vai, sobe a colina verdejante
liga a peça, faça como preferir
mas abrace
abrace o vôo
mesmo que atormentador
aumenta a dor
fere mas só porque não se vê
que é de vida,
que quando se vê,
se maltrata a vida sem querer.

assim tão distraída
dis-traída
me desvio da
destra
ida
em busca
de um pensamento mais convexo
que exerça
a destreza
distraída.

distraia sua ida para calar o suicídio
suy cídio convicto
combustível da engrenagem
é o vício.

na vida real onde adestra a destra vida.
o passar da página é o bater de asas
durma e lucidez translúcida
luzíadas
converta-se a geneologia do saber em ciência.
semi-ótica?
querem que todo mundo tome cuidado,
durma um sono velado.
quem não distraídos venceremos é assim.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

chuva na cidade (horário de almoço)

esta casa está leves mente molhada
leves mente tocada pela vida
está visivelmente
encharcada
ela está atolada
de uma distância consideravelmente considerável,
na natureza.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

poemabraços

para onde as nuvens estão indo?
vão buscar as andorinhas...
vão encher um pote de mel...

para onde e para quando
a realização rendida de cravos

redes nossas completando-se
contemplando
sonho o sonho mordido no meio

vou com as nuvens que só se movem diluídas, ralas
dispersas dispistando os choques de energia

e você com a calma de prata
encontra o centro fora de si, fora de mim
e de todos nós
o seu centro de paz, o cosmos

o cosmos dos seus dentes
a janela dos seus olhos
ah, natureza dos seus cabelos!
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eu árvore
após a tarde
de nós árvore
sou somente
eu árvore

na bacia de prata ou do araguaia
no rastro do bicho
mamífero fugitivo do fogo
ou na trilha iluminada de uma criança
caçando tatu-bolas
árvore estive observando
num equilíbrio pouco estático
expele seiva e cura a ferida

não sei quantos ventos passaram
foram deveras atormentadores
de paz ou de desespero

agora eu árvore
agora passe pelo meu caminho
que fico bem ali onde algo permanece
no vértice dos raios
onde convergem emoções coloridas
e fico bem, meu bem.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Surrealismo , Supernaturalismo.


trechos que mais gosto do manifesto do surrealismo, de 1924, escrito por André Breton.

"É uma história muito conhecida que eu conto, é um poema célebre que eu releio: estou apoiado contra um muro, com orelhas verdejantes e lábios calcinados." (Paul Éluard)



(...) ela (a imaginação) é incapaz de assumir por muito tempo este papel secundário, e por volta dos vinte anos, prefere, geralmente, abandonar o homem a seu destino sem luz. Ainda que se procure mais tarde, daqui e dali, recuperar-se, tendo sentido faltar-lhe, pouco a pouco, todas as razões para viver, incapaz que se tornou de se encontrar à altura de uma situação excepcional tal como o amor, não conseguirá absolutamente. (...) A todos os seus gestos faltará amplitude (...) Ele não se dará conta daquilo que lhe acontece e lhe pode acontecer, senão do que liga este acontecimento a uma porção de acontecimentos dos quais não participou, acontecimentos falhos. (...) Ele não verá, sob pretexto algum, sua salvação.

Cara imaginação, o que eu amo, sobretudo em você, é que você não perdoa.


(...)O espírito do homem que sonha se satisfaz plenamente com o que lhe acontece. A angustiante questão da possibilidade não se lhe apresenta mais. Mate, roube mais depressa, ame tanto quanto quiser. E se você morrer, não tem a certeza de despertar dentre os mortos? Deixe-se levar, os acontecimentos não toleram que você os retarde. Você não tem nome. A facilidade de tudo é inestimável.
Que motivo, (...) confere ao sonho este andar, faz-me aceitar sem reservas uma multidão de episódios cuja estranheza (...) me fulminaria? E, no entanto, eu pude acreditar no que meus olhos viam, no que meus ouvidos escutavam; chegou este belo dia, este animal falou. Se o despertar do homem é mais duro, se ele rompe o encantamento, é que ele foi levado a fazer uma idéia mesquinha da expiação.
(...) Creio na resolução futura desses dois estados, aparentemente tão contraditórios, tais sejam o sonho e a realidade, em uma espécie de realidade absoluta, de superrealidade. "a imagem é uma criação pura do espírito. Ela não pode nascer de uma comparação mas da aproximação de duas realidades mais ou menos afastadas. Quanto mais distantes e justas forem as relações das duas realidades aproximadas, tanto mais forte será a imagem - mais terá ela de capacidade ou poder emotivo e de realidade poética... etc." (Pierre Reverdy)
**Definição da enciclopédia Filos sobre o Surrealismo: O surrealismo assenta na crença da realidade superior de certas formas de associação, negligenciadas até aqui, no sonho todo-poderoso, no jogo desinteressado do pensamento. Tende a arruinar definitivamente todos os outros mecanismos psíquicos e a substituir-se a eles na solução dos principais problemas da vida.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A voz do demônio (William Blake)

Posto William Blake (1757- 1827), retirado de "As Núpcias do Céu e do Inferno". Ele é um dos primeiros poetas malditos da modernidade, e considero que muitos poderão ter o que se chama de um" bom encontro", com este inglês ; estes malditos eram e são assumidamente contrapostos aos enxames de abelhas já agonizantes morrendo nas luzes (de lâmpadas fracas) da razão ocidental, em união sempre renovada historicamente com a política avexatória e a culpa cristã pelo progresso de suas barbaridades desenvolvidas em termos predatórios no planeta Terra. A figura do demônio é invocada por vezes por estes poetas soltos (visto que poetas malditos não estiverem geralmente agrupados sob algum estilo, à excessão de alguns surrealistas) no mundo do delírio, mas não significa que acontece uma adoração do tinhoso, simplesmente o demônio é usado por ser símbolo de revolta, característica instrínseca ao ser humano (morda da fruta da árvore da ciência, baby, mas o criador vai te punir por isso!).

A VOZ DO DEMÔNIO

Todas as Bíblias ou códigos sagrados têm sido a causa dos seguintes Erros:
1. Que o Homem tem dois princípios reais de existência, a saber: um Corpo e uma Alma.
2. Que a Energia, cognominada Mal, provém exclusivamente do Corpo; e que a Razão, cognominada Bem, não provém senão da Alma.
3. Que Deus inflingirá tormentos ao Homem na Eternidade por haver seguido as suas Energias.
A isso, porém, se opõem, como Verdadeiros, os seguintes Contrários:
1. O Homem não tem um Corpo distinto da Alma, pois aquilo que se chama Corpo é uma porção da Alma discernida pelos cinco Sentidos, as principais vias de acesso da Alma neste estágio de nossa existência.
2. A Energia é a única vida, e dimana do Corpo. A Razão é a linha divisória ou a circunferênia exterior à Energia.
3. A Energia é Eterna Fruição.

Aqueles que refreiam o desejo assim procedem porque o que possuem é bastante débil para ser reprimido, e o repressor, isto é, a razão, usurpa o lugar do que anelam e governa os relutantes.
E o desejo sofreado vai-se gradualmente tornando inerte até reduzir-se a uma sombra do que era.
A história disto acha-se estampada no Paraíso Perdido, e o Soberano, ou Razão, chama-se o Messias.
E o Arcanjo original, ou o detentor do comando das hostes celestes, é aí cognominado o Demônio, ou Satanás, e seus filhos se designam pelos nomes de Pecado e Morte.
No Livro de Job, todavia, o Messias de Milton é denominado Satã.
Pois este relato foi adotado por ambos os grupos.
Parecia, na verdade, à Razão como se o Desejo tivesse sido banido; mas a versão do Demônio é que o Messias tombou e fundou o céu com o que roubara do Abismo.
(...).


sábado, 7 de novembro de 2009

pracimealém

vamos nos desgastando
como a contingência do pingo
que desce dos andares do
prédio e anda agora
em minhas costas
num lugar temporal com cheiro
de vida me transporto.
e a vida nem sempre cheira bem
meu avô diria
,
minha vó riria
e eu concordaria
e riria e abraçaria e
abraço vô! abraço vó!

abraço o vôo que me puxa
pracimealém
com medo

vejo você pracimealém
seus olhos são atormentados
acalmada acamada
você salva
a contingência do bem.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

sobre pássaros e céus impossíveis

Na manhã cinza os pássaros voam

o céu não está tão povoado

os pássaros voam

não há outros bichos

dizem que ainda há pássaros

não há terra que não seja

do homem

pela janela

tampouco muitos que a peneira segurará

quando caírem em queda livre
do céu da eternidade da credulice humana.

domingo, 27 de setembro de 2009

utopia amorosa inconsciente

desde que somos de novo adolescentes
nos conhecemos

quando os mares clarearam
nos amamos

em águas turvas tombamos
leves canoas quase vazias
rio elameado no cheiro
água turva

é uma enchente
árvores e quem e o que puder
trepado sobre elas
uma imagem recorrente
nos sítios da infância
encantados
chão batido
vassoura de bruxa
varre os terreiros
das relações passa a das

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Eles estão cegos.

"Provai e vede" (como se diz na missa católica ao ser erguido no ar o "corpo de cristo", um círculo quebrado de farinha e água, banhado no vinho, gostosinho de tomar. MAS, em tempos difíceis como os de hoje, apenas quem está liderando a cerimônia toma o corpo molhado no sangue e atiça a loucura humana com mais consciência do que faz). (Agora voltando...) Provai e vede que a cegueira branca, apavora.
trechos de "Ensaio sobre a Cegueira" de Saramargo:

Os automobilistas, impacientes, com o pé no pedal da embraiagem, mantinham em tensão os carros, avançando, recuando, como cavalos nervosos que sentissem vir no ar a chibata.
(...)
A consciência moral, que tantos insensatos têm ofendido e muitos mais renegado,
é coisa que existe e existiu sempre, não foi uma invenção dos filósofos do
Quaternário, quando a alma mal passava ainda de um projecto confuso. Com o
andar dos tempos, mais as actividades da convivência e as trocas genéticas,
acabámos por meter a consciência na cor do sangue e no sal das lágrimas, e, como
se tanto fosse pouco, fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro,
com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando
de negar com a boca. Acresce a isto, que é geral, a circunstância particular de que,
em espíritos simples, o remorso causado por um mal feito se confunde frequentemente
com medos ancestrais de todo o tipo, donde resulta que o castigo do prevaricador
acaba por ser. sem pau nem pedra, duas vezes o merecido.
(...)
Há mil razões para que o cérebro se feche, só isto, e nada mais, como uma visita tardia que encontrasse cerrados os seus próprios umbrais. O oftalmologista tinha gostos literários e sabia citar a propósito.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Piva e as orgânicas iluminações profanas


Visão de São Paulo à noite - Poema Antropófago sob Narcótico


Na esquina da rua São Luís uma procissão de mil pessoas

acende velas no meu crânio

há místicos falando bobagens ao coração das viúvas

e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo

fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes

chupando-se como raízes

Maldoror em taças de maré alta

na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida

a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua

gíria

feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas

definitivamente fantásticas

há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo

a lua não se apóia em nada

eu não me apóio em nada

sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas

teorias simples fervem minha mente enlouquecida

há bancos verdes aplicados no corpo das praças

há um sino que não toca

há anjos de Rilke dando o cú nos mictórios

reino-vertigem glorificado

espectros vibrando espasmos

beijos ecoando numa abóbada de reflexos

torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos

enlouquecidos na primeira infância

os malandros jogam ioiô na porta do Abismo

eu vejo Brama sentado em flor de lótus

Cristo roubando a caixa dos milagres

Chet Baker ganindo na vitrola

eu sinto o choque de todos os fios saindo pelas portas

partidas do meu cérebro

eu vejo putos putas patacos torres chumbo chapas chopes

vitrinas homens mulheres pederastas e crianças cruzam-se e

abrem-se em mim como lua gás rua árvores lua medrosos repuxos

colisão na ponte cego dormindo na vitrina do horror

disparo-me como uma tômbola

a cabeça afundando-me na garganta

chove sobre mim a minha vida inteira, sufoco ardo flutuo-me

nas tripas, meu amor, eu carrego teu grito como um tesouro

afundado

quisera derramar sobre ti todo meu epiciclo de centopéias

libertas

ânsia fúria de janelas olhos bocas abertas, torvelins de

vergonha,

correias de maconha em piqueniques flutuantes

vespas passeando em voltas das minhas ânsias

meninos abandonados nus nas esquinas

angélicos vagabundos gritando entre as lojas e os templos

entre a solidão e o sangue, entre as colisões, o parto

e o Estrondo

de: Paranóia (1963)

domingo, 12 de julho de 2009

Van Gogh: o suicidado pela sociedade.


Artaud, sem mais delongas, considero um verdadeiro gênio. Ácido como deve ser alguém que lucidamente vive enquanto negação de uma ordem, esta, "inteiramente baseada no cumprimento de uma primitiva injustiça". Fez parte do início do movimento surrealista, deixando o mesmo quando seus membros começaram a unir-se ao Partido Comunista. Apresento "Campo de trigos com corvos" de Van Gogh (pintado pouco tempo antes do suicídio) e alguns trechos do ensaio "Van Gogh: o suicidado pela sociedade" (obs: Van Gogh e Artaud, foram ambos considerados loucos):

Pode-se falar da boa saúde mental de Van Gogh, que em toda sua vida apenas assou uma das mãos e, fora disso, limitou-se a cortar a orelha esquerda numa ocasião.
(...) Por isso, uma sociedade infecta inventou a psiquiatria, para defender-se das investigações feitas por algumas inteligências extraordinariamente lúcidas, cujas faculdades de adivinhação a incomodavam. Gérard de Nerval não estava louco, mas o acusaram de estar louco para desacreditar certas revelações fundamentais que estava em vias de fazer; e, além de acusá-lo, certa noite golpearam sua cabeça, golpearam-no fisicamente para que esquecesse os fatos monstruosos que ia revelar e que, por causa deste golpe, passaram do plano mental para o plano supranatural, pois a sociedade toda, conjurada contra sua consciência, mostrou-se naquele momento suficientemente forte para obrigá-lo a esquecer sua verdade.

(...) Diante da lucidez ativa de Van Gogh, a psiquiatria nada mais é que um antro de gorilas obcecados e perseguidos que só dispõem de uma ridícula terminologia para aplacar os mais espantosos estados de angústia e asfixia humana, uma terminologia digna de cérebros tarados.

(...)E o que é um autêntico louco? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana. Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusaram a ser seus cúmplices em algumas imensas sujeiras. Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido e enunciar certas verdades intoleráveis.

(...)E ele não se suicidou num acesso de loucura, de desespero por não conseguir encontrá-lo (o eu humano), mas, pelo contrário,ele havia conseguido, tinha descoberto o que era e quem era quando a consciência coletiva da sociedade, para puni-lo por ter rompido as amarras, o suicidou.

E aconteceu com V.Gogh como poderia ter acontecido com qualquer um de nós, por meio de um bacanal, de uma missa, de uma absolvição ou qualquer rito de consagração, possessão, sucubação ou incubação.

Assim a sociedade inoculou-se no seu corpo, esta sociedade

absolvida,

consagrada,

santificada,

e possuída,

apagou nele a consciência sobrenatural que acabara de adquirir e, como uma inundação de corvos negros nas fibras de sua árvore interna,

submergiu-o num último vagalhão

e, tomando seu lugar,

o matou.

POIS ESTÁ NA LÓGICA ANATÔMICA DO HOMEM MODERNO NUNCA TER PODIDO VIVER, NUNCA TER PODIDO PENSAR EM VIVER, A NÃO SER COMO UM POSSUÍDO.

sábado, 4 de julho de 2009

cidades

cálices dourados em todas as bocas
e o pior
estão vazios!

um domingo amarelado
nos dentes brancos do comercial
de creme dental

guerras particulares
caladas na obediência.

mas para alguns o emaranhado de nervuras
do cérebro
são fios de pólvora

nas cidades do homem
o céu é a possibilidade
oh natureza intocável!
a obediência é fato
nos passos do concreto
marasmo.

desamparo, eu te compro.
sanidade, você mente
não vou lhe vender a ninguém.
loucura eu te saúdo
com cálices cheios,
muros pulados e coração livre.

quem bota as rédeas
merece ser chicoteado
(mas merece muito!)

sinto a solidão das árvores
ilhadas de suas semelhantes

cabides passeiam em falso
imagine ação,
imaginação!
te saúdo negação, sente-se.

terça-feira, 2 de junho de 2009

(Magritte e Suzanne - Leonard Cohen)
"E jesus era um marinheiro
quando ele caminhou sobre a água,
e ele gastou muito tempo observando
de sua solitária torre de madeira...
E quando ele teve certeza
que só homens afogados poderiam vê-lo,
ele disse "Todos os homens serão marinheiros
até o mar libertá-los",
mas ele mesmo estava traumatizado,
muito antes do céu ser aberto,
Abandonado, quase humano,
ele afundou abaixo de sua sabedoria como uma rocha.

meditação com "kashmir"

"I am a traveler of both time and space, to be where I have been"
"eu sou um viajante de ambos, tempo e espaço, por estar onde estou".


As meditações estavam interrompidas por um período em que não havia alternativa, pois a faculdade de escolher a realidade, estava fora do meu alcance. Viajei ao oceano, vivendo o mistério da quebrável linha da vida, nas montanhas escuras a absoluta solidão das buscas incompreendidas. Sempre há algumas descobertas.
Pensando nos símbolos da natureza, o mar é absoluto, tem caráter total. Ou seja: dele nada pode escapar. Pode ser usado em uma analogia deveras interessante com a vida. Quem morre no mar geralmente volta à praia, cuspido pelas águas. Jesus foi um cara que andou sobre a água, e ele disse que todos os homens deveriam fazer o mesmo. Ele, supostamente nos trouxe a possibilidade de ressureição do corpo... Ou a certeza de que a mente pode fazer muito mais do que ousamos imaginar. Acreditando no que quiser, pelo menos as imagens parecem claras, nas mensagens que possuem em si mesmas.
Nas montanhas, um lobo uiva à lua, demonstrando que está vivo em sua solidão abissal. Pode soar como lamento, mas é um ecoará por lugares e tempos que ainda não temos a possibilidade de desvendar... É um lamento de vida, que quando nasce ou morre, passa mesmo pela dor.
Agora, através de Kashmir cheguei ao deserto. E tenho medo do que vejo. Existe vida nos lugares aparentemente inóspitos: os seres abissais habitam a zona abissal do oceano, onde reina a escuridão e o frio. Muitos animais do deserto, só aparecem à noite... A contradição permanece no escuro e vice-versa: à ausência de luz, presumimos ausência de vida, ou simplismente a ausência, mesmo. Se seres marginalizados fazem da noite ou do inóspito sua casa, permanecem fora das luzes espetaculosas, e inacreditáveis ao senso-comum que só acredita no que vê, ou no que lhe mostram. O deserto é a paisagem de muitos quadros surrealistas! A ausência de sentido criará forças à explosão da liberdade, amém.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

clarevidenciando




























é preciso dizer à atualmente terrível raça humana:

no lado de lá
coisas maravilhosas acontecem
enquanto o citadino adormece
a vida libera suas energias
extraordinariamente dinâmicas e persistentes.


um equilíbrio atormentador
nos toma a mente
usando o insano amor.


clareada a visão,
clarividência
compaixão.


só quem teve coragem e andou por lá
por via clara ou obscura,
quem teve muita sêde e febre,
juntou-se ao cosmos
de braços para o alto
e involunta ria, mente.


pedestres distraídos
pisam leve no recolhimento
da refrescância noturna.

os mais distraídos foliões perturbam as tranquilidades
rompem iluminados pela vontade
a idéia do equilíbrio alienado.

conversas/fluxos com o azul, histórias sem fim.


intensamente leves movimentos da cortina, animada musicalmente como expressão do mundo muito tumultuado e desgostoso. mundo negro, alegrias que se parecem mais com tristezas, que se assemelham mais a loucuras extremamente presas ao que chamam REALIDADE, coroada de acontecimentos diurnos e bem regulados no que concerne subtrair as forças criativa/dor/as humanas.
é o CACHORRO VOADOR NO CÉU que fica ali tão longe. uma criança descobre o azul do mundo.se nos esquecermos dos filmes da disney, negligenciamos boa parte da imaginação ocidental. tão azul quanto PÁLIDA, esta energia do bom-samaritanismo impregnada em nossos corações.

algumas imagens de liberdade são vinculadas nos meios de comunicação. por que, santo deus? deram um jeito de ligar a esperança ao amor! cazuza, um porra louca maravilhoso, já disse seu "só se for à dois". Sartre, que ninguém é livre sozinho. a lógica do amor que permanece contra tudo e todos já impregnava os corações de nossos pais, estes romeusjulietas anônimos e plebeus. com esse amor, tentam nos cegar do amor pelo mundo. vivendo uma paixão pelo mundo, certamente estamos encrencados, amigos, amigas. apaixonar-se por uma efêmeracomonóspessoa já supõe obstáculos?

apaixonar-se pelo mundo e sair vivo/a é escapar de uma enchente/tornado/deslizamento trepado/a na última arvorezinha que sobreviveu na Terra. Não se sinta um Noé, noé nada verdade.

quarta-feira, 11 de março de 2009

passei pela ponte de madeira
seus olhos
me apareciam
molhados
nas flores.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

nadadores de barrigas

montei a paisagem com as pupilas dilatadas.
naturezas mortas
noturnas como muito do que é hoje proibido pela instituição de vigias "voluntários da vizinhança"
como todo o revelador
revela a dor
da existência.

dor que pariu um filho vivo.
procuro o desencanto e o desacato à autoridade
sempre revestida de seu manto placentino,
da negação da morte, da vida,
do desencanto.
legitimada por um prazer intrauterino
baseado na recordação da segurança
do tempo de nadadores de barrigas.

querendo mamar nas tetas empoeiradas da ordem e do regresso ao tempo de gestação da vida sentenciada perdida
rogam a manutenção do medo do novo, do tempo do ovo, da eternidade careta.

domingo, 25 de janeiro de 2009

meu pensamento

passa passado,

por barreiras invisíveis

de átomos sensíveis,

anuviado pelas nuvens.



chega à sua cidade
faz pelo sol um carinho

laranja nas suas faces


ele ainda me faz assustada

com similaridades e temporais

que arrebatam duas mentes

imã

imatem porais corais de poros


imateri

atempo

imo

tempo

rais.


imagens de liberdade:

chapéu do mágico sabotado pela pomba

edifício intacto desmorona,

Unabomber.