domingo, 31 de janeiro de 2010

do tamanho de um pensamento

esse texto foi escrito numa noite em que as paredes transpiravam, situação particular considerando o clima do noroeste do paraná. foi a primeira tentativa de acreditar no caráter inesgotável do murmúrio, em deixar o pensamento passar à folha sem cortes, como Breton deixou a dica, no manifesto do surrealismo.

preâmbulo a uma audição sem cortes do espírito.
conversa entre amigos - agosto de 2010.

"eu quebro a descontinuidade"
"dois tótens na floresta"
"intelecto só é legal se é doença"

(começa a audição)

a cabeça se imagina tanto que acaba com a paisagem.
vocação para ser paisagem (me)
chegou a hora de você ver:
então abra os olhos e veja.
abra os tantos
TANTOS TONTOS OLHOS DO CORPO
são tontos?
são olhos de potizaaa
agora rosaaa
agora cavernaaaa
agora larvaaa
agora peneiraaaaa
agora esquizofreniaaa
nada além de animalidadeee
a sua mais antiga vidaaaaaaa
o seu mais antigo sonhooooo

há só o que você permite no seu mundo
e desta forma você não se torna a alegria
mas sofre duma doença
de vida
leve doença

pensamento
fome
tormento
escrevo mediunicamente.

o espírito é o que não se assemelha ao animal au au
mas eu não concordo ôuôuôu
há ecos e vozes
que só silenciam quando a cabeça está tranquila
na vigília.

é por isso que preciso
existo sem ou sempre com essa tristeza desde a tenra infância?
os fatos nunca serão demais para sua louca esperança

é animal
é torto
a vida de um passageiro de trem
é a viagem
um dia será arte
ou é uma miragem êmmêmmêmm
cadeias de montanhas
noites insanamente azuis
céus com amarelos,pretos
e o céu como uma segunda pele da cidade

você ouve demais
caiu na família que elimina isso em você.
é um porto seguro.
não há medo além da página
não sinta medo, as cadeiras têm esse som
as árvores balançam, é assim mesmo...
sempre um porto seguro
sempre a realidade
sempre a meditação
nunca aquilo que você aprendeu por rodeios
a não dizer para não existir.

a vida selva se torna difícil de abstrair.
difícil separar abstração de
vida
e vida
de solidão também.
"nas tripas, meu amor."

dê olá para seu silêncio
e ele silencia
eu não quero mais silenciar
preciso de liberdade
menos impregnada do mundo
e muito mais dos melamores mil
que chamuscam de você para uma pele
estendida como rede na praia.
me dê um pouco de partilha
e nos damos então.
a pena que sai é sempre a mão é a pena é a mão.

teorias são o oposto da culpa
mas são igualmente terríveis.

e você amigo ariano
sabe o que quer
e acho que não tem nada mais que agente saiba.
é verdade
pura construção de um mundo:
conceituamos organicamente por toda parte.
colocamos as rédeas no lombo e estamos no mesmo cavalo.

passageiros
à cada nova visão
tua cabeça leva uma pancada no banco
e é aí que você percebe
que sempre viu em viagens
inclusive uma voz consciente falando com você
que não sabemos quem era,
se era você.

um lago.

lótus.

imaginação também é inteligência
quero ter estar ser tudo que permaneça em mim
doors a vida inteira

acharia bem melhor não estar sozinha
por não entender mais
que horas
são
oras,
são idéias?
são mortes na estátua, saia daí!

estrelamente
assustadoramente
te põe à frente
os que lhe são iguais.
relações, não competições.
cada um com seu osso e não falemos mais nisso.

rios
raios
desafios
saltos femicrús de sepato na escada.

as botas que falavam se parecem com as minhas
a voz que sai agora parece uma fuinha.

produzo
uso mais
minha cabeça

me apaixono por
passageiros
porque sou uma dessas
e que se apaixona por passageiros.

mas tem um que você
quer que
qualquer que
qualquer
que seja
têm de ser ele.

você quer domar o monstro?

então veja
eu te quero, queimo
leito banhado de fogo
te abraço, te amo, te olhos
te olhos o tempo inteiro
teolhusutempuintêro
teolhoalém
mas te olhar aqui será legal também.
te querelas
te olhos sem nenhuma remela.
te olhos insistentemente
provável
mente
não me
olhos também.

você podia erigir comigo
mundos menos propensos ao pecado

é a vida que não escolhi cair,
é a vida,
é o amor
é uma fatalidade.
não fui eu
não foi você

não fomos ninguém.
somos assim, distintos.

minha certeza é
a dúvida que se consome
verás
o clarão
bizarro no fim.

não
numa facilidade de dizer nãos
numa acrobacia malabarenta
malabarimpãpã
vários nãos

leve tudo e aproveite a viagem.
ele também corria demais
mais um espírito
desesperado
possuído
de uma dor que sabe igual
em muitos possuídos espíritos

vagantes
vagar
vagão
angar
vagar vão vida
vivível.

dos monstros
das sêdes individuais
se parte para uma mesma montanha
que é o tótem do futuro
porque é a vanguarda.
se não fosse da mesma geração não saberia.

a solidão
é parte
e parte
de mim
mas eu gosto muito
de vocÊ
um pouco
perto.
o que está superentendido
é que seríamos parceiros de viagem.

nós que em cada curva vemos algo de novo
somos malucos
resta saber
quer
ri
por último e melhor

através de toda sorte de burrices espalhadas
o vento varre o chão da casa
espelhos sempre tiveram
e sempre terão
ovos sempre
totens terão

pensamentos bolas
gigantes despenhadeirando
morrabaixo.
não.

através da
arte
atravessa ao outro
lado
e vê
todas
todas as paisagens
são mentais.
nem mentira nem verdade.

tóten-tando (tô mesmo!)

"eternamente
é ter na mente
eternamente
e ternamente
é ter na mente
eternamente
é ter na mente" (Walter Franco)

com certeza
é uma juventude de portas
que abrem
para o aeroporto

aéreo
ah é?
por tudo que é mais sagrado ^^

cada fagulha
centelhava
e olhava.

sábado, 2 de janeiro de 2010

idéia de alegoria

Pela sua sanidade – este apelo longínquo- eu sugiro que vote no partido “eu sou o seu ninguém”. Vai insanamente o abismo da vida se aumentando, e por mais absurda que pareça a analogia simbólica, este abismo existe materialmente é entre gentes, que vejam bem, elas realmente estão divididas por este abismo de entendimento. O rio, lá embaixo, corre cristalino. Porém não tanto como antes; sua transparência se obtém jogando um retransparecedor nas águas. Havia antes, uma pontezinha de madeira sentada como o paraíso encima da correnteza, sua madeira era fresquinha e algumas pessoas passavam por lá. O rio tinha duas margens, que representavam, para além do absurdo, margens por onde passavam correntezas opostas. As crianças que viviam numa margem do rio, não podiam brincar com as crianças que moravam do outro lado, e tudo era assim simples como essa explicação: não podiam, mesmo. Que chato! Diziam que no dia em que uma criança das que não podia se misturar resolvesse faze-lo, voltaria com piolhos. Mas o curioso, é que ninguém sabia que na criação desta criança, a ausência de piolhos se dava por diversos fatores da vida material, e não por uma predisposição genética para tal. Afinal, o fator problemático de conviverem com pessoas que possuíam piolho, não era a possibilidade de os pegarem para sua cabeça?

Após muito tempo, os donos do rio, que agora já tinha dono, antes não, criaram formas realmente capetísticas, como se adora dizer em alguns templos dedicados ao seu deus, que atentem ser uma idéia de deus dentro de tantas outras existentes ou que já passaram pela face da terra, criaram eles formas de que as crianças entendessem da existência de tudo que há do outro lado: havia filmes sobre o subúrbio, havia filmes sobre o centro da cidade. Porque agora, já estamos na cidade, se situe, amigo meu, minha amiga, e paz e vamos lá. O curioso, voltando nos filmes, é que todos eles eram produzidos (palavra muito usada na nossa época) pelas mesmas pessoas! Mais curiosa a idéia de que os que viviam de um lado do rio, considerado o lado alto, mas já falaremos disso, precisavam de alguma informação sobre o lado vizinho, e se consideraram mesmo muito corajosos, por atravessar o rio e ir até lá. Chegando lá é que começa a desgraça toda. A pobreza do pobre faz o rico pensar sobre o mundo com exotismo.